sexta-feira, 14 de junho de 2013

SUICÍDIO OU HOMICÍDIO

ZERO HORA 14 de junho de 2013 | N° 17462

Família de professora pede reavaliação de inquérito. Após MP ter descartado assassinato, polícia reabriu caso na Serra por acreditar que mulher não se matou

JOSÉ LUÍS COSTA

Uma história envolvendo família, herança e morte intriga há mais de dois anos São Francisco de Paula, na serra gaúcha. Um caso tratado como homicídio pela polícia foi arquivado como suicídio a pedido do Ministério Público (MP), mas agora pode sofrer uma reviravolta. A investigação policial foi reaberta com base em novos testemunhos, e a Justiça analisa um pedido da família da vítima para que a cúpula do MP examine o inquérito novamente.

Oepisódio controverso teve início no entardecer de 21 de fevereiro de 2011. Naquela segunda-feira de Carnaval, a professora Cleusa Borges do Amaral, 46 anos, foi atingida com três tiros de revólver calibre 38 no pátio de casa, no bairro Campo do Meio, área central do município.

Depois de mais de um ano de investigações, interrogatórios e uma reconstituição, o marido de Cleusa, o comerciante Mário Luiz Benetti, 50 anos, foi indiciado pela Polícia Civil como autor de um homicídio. Ele era o dono da arma, a única pessoa na casa, o primeiro a encontrar a vítima e apresentou uma versão considerada improvável pela polícia.

Uma suspeita contra Benetti está baseada na necropsia do Instituto-geral de Perícias (IGP). O laudo apontou dois ferimentos no mamilo esquerdo e outro na região umbilical de Cleusa. Os tiros teriam sido dados da direita para a esquerda, de cima para baixo, e à distância. Ao depor três dias depois da morte, Benetti disse ter encontrado a mulher ferida com o revólver na mão esquerda. Ela era destra.

A conclusão da polícia chocou a comunidade de 20,5 mil habitantes. O casal era conhecido na cidade. Cleusa era herdeira de terras na região, e Benetti, dono de uma churrascaria. Viveram amigavelmente durante 13 anos, e em 2009, iniciaram um processo de adoção – em andamento – de uma criança que passou a morar com eles. A morte de Cleusa tornaria a menina, hoje com cinco anos, herdeira dos bens de Cleusa.

– A maneira como o corpo foi localizado e o número de tiros me fez acreditar que ela não poderia ter atirado. Suicídio com três tiros de revólver é muito raro, ainda mais envolvendo uma mulher. É um caso muito peculiar – afirmou o delegado Daniel Reschke, responsável pela investigação.

Mas, em junho de 2012, o MP pediu arquivamento do inquérito por acreditar em suicídio, levando em consideração um item do laudo que informa a possibilidade de Cleusa ter se matado com mais de um tiro porque os primeiros disparos não teriam sido letais.

Recentemente, comentários na cidade de que, no dia da morte, Cleusa teria sido vista se escondendo de alguém antes de ser baleada levantaram novas suspeitas. No começo do ano, com base nesses relato, o delegado obteve autorização judicial para novas investigações. Foram interrogadas quatro pessoas. E um dos depoimentos suscitou ainda mais dúvidas.

Mais uma vez, MP pede o arquivamento do caso


Em três declarações controvertidas e confusas, uma vizinha de Cleusa revelou que teria escutado, no dia da morte, uma voz feminina gritando por socorro e que iria chamar a polícia. A testemunha não soube precisar se ouviu tiros antes ou depois do apelo. No mês passado, o MP voltou a se manifestar pelo arquivamento do caso, desacreditando as novas versões e baseado nos mesmos argumentos do primeiro pedido de arquivamento. Procurado por ZH, o promotor Bruno Pereira Pereira evitou falar.

A família de Cleusa, por meio do advogado Ricardo Cunha Martins, pediu ao juiz Carlos Eduardo Lima Pinto, da Vara Judicial de São Francisco de Paula, que reavalie o caso e remeta o inquérito à Procuradoria-geral de Justiça – para eventual oferecimento de denúncia contra Benetti por homicídio.





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