JOSÉ LUÍS COSTA
CASO KUNZLER. Acusados por morte são absolvidos
FALTA DE PROVAS leva magistrado a concluir pela inocência de Jaerson Martins de Oliveira e Ronaldo Cirne Coelho no latrocínio do publicitário em fevereiro, quando chegava em casa na zona sul da Capital, após sacar dinheiro em banco
Uma investigação conturbada com prisão por engano, avanços e retrocessos e até testemunha secreta resultou na absolvição dos dois homens acusados do assassinato do publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos (foto ao lado).
Ele foi vítima de latrocínio (roubo com morte) quando chegava em sua casa, na zona sul de Porto Alegre, em 24 de fevereiro, após sacar R$ 44,2 mil em um banco no bairro Moinhos de Vento.
Por decisão do juiz Joni Victória Simões, da Vara Criminal do Fórum Regional da Tristeza, Jaerson Martins de Oliveira, o Baro, 41 anos, foi inocentado do crime por inexistência de provas, atendendo a pedido do Ministério Público. Ele era acusado de ter atirado na vítima. Ronaldo Cirne Coelho, 31 anos, também foi isentado do latrocínio, mas acabou condenado a quatro anos e três meses de prisão por associação criminosa. O Ministério Público vai recorrer ao Tribunal de Justiça do Estado, pedindo a condenação de Coelho pelo assassinato. Para a Polícia Civil, não haveria outros suspeitos.
O magistrado entendeu que Coelho teria envolvimento no caso porque o Scénic usado pelos criminosos estava em nome dele. Além disso, dois meses depois da morte de Kunzler, Coelho foi flagrado em escutas telefônicas combinando e executando crimes semelhantes, conhecidos como “saidinha de banco”. Coelho já tem condenações por tráfico e responde a outros dois processos por homicídio.
O advogado de Jaerson Martins de Oliveira, Marcelo Rocha Cabral, disse que não tinha dúvidas sobre a inocência de seu cliente:
– As filmagens reforçam a convicção de que ele nada tinha a ver com o crime. O atirador tem fisionomia diferente da dele.
A defensora de Ronaldo Cirne Coelho, Larissa Francine Gonzalez, também esperava pelo resultado:
– Ficou provado que ele não tem envolvimento no caso. Foi condenado por associação criminosa por causa das escutas telefônicas. Já recorri dessa decisão.
O ataque a Kunzler se constituiu no mais emblemático caso policial de 2014 pela ousadia dos criminosos e pela expectativa de ser resolvido rapidamente com ajuda da tecnologia. O crime foi praticamente todo registrado por câmeras de vigilância, instaladas dentro do banco, no entorno dele, no trajeto em que a vítima foi perseguida e na entrada do condomínio, onde o publicitário foi morto.
TRÊS MESES DE TRABALHO POLICIAL NÃO AJUDARAM
As imagens, contudo, não permitiram a identificação dos criminosos – o matador de Kunzler usava capacete. E relatos colhidos pela Polícia Civil em quase três meses de trabalho não ajudaram a chegar aos autores. Em um episódio inusitado, um homem procurou a polícia, afirmando ter visto o matador instantes após o crime, mas se negou a depor oficialmente. Com medo de represálias, ele registrou sua versão de forma anônima em um tabelionato, sem sequer revelar a profissão.
“As provas acerca do momento exato do crime de latrocínio são parcas. Nenhuma testemunha logrou identificar seguramente os envolvidos (...). As imagens obtidas por meio dos sistemas de vigilância e da EPTC também não trouxeram elementos suficientes para o esclarecimento da autoria” escreveu o magistrado na sentença.
O advogado Fernando Magnus, primo de Kunzler, evitou tecer comentários sobre a decisão, mas disse que o resultado é frustrante:
– Esperava-se que a polícia buscasse provas. Se o juiz não tem elementos, não tem como julgar.
UMA INVESTIGAÇÃO CONFUSA
Audiência judicial em agosto termina sem que ninguém seja responsabilizado pelo crime
-Impressões digitais deixadas no Civic da vítima e outros indícios levam agentes da 6ª DP da Capital a prender um suspeito, três dias após o crime. Mas as marcas eram do manobrista do estacionamento onde Kunzler deixara o carro. A polícia reconhece o erro, e o homem é solto no mesmo dia.
-Em 13 de março, é preso Jaerson Martins de Oliveira, o Baro, 41 anos. Condenado por dois roubos e um latrocínio, ele cumpre pena em regime semiaberto. Um homem tinha dito à polícia ter reconhecido Jaerson, mas se negou a depor.
-Advogados apresentam um CD com imagens nas quais Jaerson apareceria trabalhando no horário do crime. Ele é solto em 28 de março.
-Com ordem judicial, a polícia grampeia celulares de suspeitos, incluindo o de Jaerson e de Ronaldo Cirne Coelho. Nada é apurado contra Jaerson, mas escutas revelam que Coelho combina assaltos em saídas de bancos com comparsas, um deles é morto dias depois com três tiros.
-Em 9 de maio, a 6ª DP indicia nove pessoas pelo crime. Uma semana depois, o Ministério Público denuncia apenas Jaerson e Coelho.
-Em audiência judicial em agosto, o MP reconhece que Jaerson não tem participação no crime e pede a absolvição dele. Na quarta-feira desta semana, Jaerson é absolvido, e Coelho é condenado por associação criminosa por suposta participação no crime. Ninguém é responsabilizado por matar e roubar Kunzler.
CONTRAPONTO
– Não conheço o processo, mas, se a absolvição do assassinato foi por falta de provas, acredito que o inquérito não trouxe elementos suficientes para convencer a Justiça.
O CRIME - Câmeras de vigilância mostraram praticamente toda a sequência do que aconteceu com Kunzler. O publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos, é morto ao chegar ao condomínio Jardim do Sol, na zona sul de Porto Alegre, para almoçar em casa. Antes, ele havia retirado R$ 44,2 mil, valor da venda de uma fazenda da família, em uma agência do Itaú, no bairro Moinhos de Vento. Câmeras de segurança do condomínio mostram quando dois homens em uma moto param ao lado do Civic conduzido por Kunzler, e um deles o ameaça. Com a reação do publicitário, que acelera o carro, tiros são disparados, e o malote de dinheiro é roubado.
CASO KUNZLER. Acusados por morte são absolvidos
FALTA DE PROVAS leva magistrado a concluir pela inocência de Jaerson Martins de Oliveira e Ronaldo Cirne Coelho no latrocínio do publicitário em fevereiro, quando chegava em casa na zona sul da Capital, após sacar dinheiro em banco
Uma investigação conturbada com prisão por engano, avanços e retrocessos e até testemunha secreta resultou na absolvição dos dois homens acusados do assassinato do publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos (foto ao lado).
Ele foi vítima de latrocínio (roubo com morte) quando chegava em sua casa, na zona sul de Porto Alegre, em 24 de fevereiro, após sacar R$ 44,2 mil em um banco no bairro Moinhos de Vento.
Por decisão do juiz Joni Victória Simões, da Vara Criminal do Fórum Regional da Tristeza, Jaerson Martins de Oliveira, o Baro, 41 anos, foi inocentado do crime por inexistência de provas, atendendo a pedido do Ministério Público. Ele era acusado de ter atirado na vítima. Ronaldo Cirne Coelho, 31 anos, também foi isentado do latrocínio, mas acabou condenado a quatro anos e três meses de prisão por associação criminosa. O Ministério Público vai recorrer ao Tribunal de Justiça do Estado, pedindo a condenação de Coelho pelo assassinato. Para a Polícia Civil, não haveria outros suspeitos.
O magistrado entendeu que Coelho teria envolvimento no caso porque o Scénic usado pelos criminosos estava em nome dele. Além disso, dois meses depois da morte de Kunzler, Coelho foi flagrado em escutas telefônicas combinando e executando crimes semelhantes, conhecidos como “saidinha de banco”. Coelho já tem condenações por tráfico e responde a outros dois processos por homicídio.
O advogado de Jaerson Martins de Oliveira, Marcelo Rocha Cabral, disse que não tinha dúvidas sobre a inocência de seu cliente:
– As filmagens reforçam a convicção de que ele nada tinha a ver com o crime. O atirador tem fisionomia diferente da dele.
A defensora de Ronaldo Cirne Coelho, Larissa Francine Gonzalez, também esperava pelo resultado:
– Ficou provado que ele não tem envolvimento no caso. Foi condenado por associação criminosa por causa das escutas telefônicas. Já recorri dessa decisão.
O ataque a Kunzler se constituiu no mais emblemático caso policial de 2014 pela ousadia dos criminosos e pela expectativa de ser resolvido rapidamente com ajuda da tecnologia. O crime foi praticamente todo registrado por câmeras de vigilância, instaladas dentro do banco, no entorno dele, no trajeto em que a vítima foi perseguida e na entrada do condomínio, onde o publicitário foi morto.
TRÊS MESES DE TRABALHO POLICIAL NÃO AJUDARAM
As imagens, contudo, não permitiram a identificação dos criminosos – o matador de Kunzler usava capacete. E relatos colhidos pela Polícia Civil em quase três meses de trabalho não ajudaram a chegar aos autores. Em um episódio inusitado, um homem procurou a polícia, afirmando ter visto o matador instantes após o crime, mas se negou a depor oficialmente. Com medo de represálias, ele registrou sua versão de forma anônima em um tabelionato, sem sequer revelar a profissão.
“As provas acerca do momento exato do crime de latrocínio são parcas. Nenhuma testemunha logrou identificar seguramente os envolvidos (...). As imagens obtidas por meio dos sistemas de vigilância e da EPTC também não trouxeram elementos suficientes para o esclarecimento da autoria” escreveu o magistrado na sentença.
O advogado Fernando Magnus, primo de Kunzler, evitou tecer comentários sobre a decisão, mas disse que o resultado é frustrante:
– Esperava-se que a polícia buscasse provas. Se o juiz não tem elementos, não tem como julgar.
UMA INVESTIGAÇÃO CONFUSA
Audiência judicial em agosto termina sem que ninguém seja responsabilizado pelo crime
-Impressões digitais deixadas no Civic da vítima e outros indícios levam agentes da 6ª DP da Capital a prender um suspeito, três dias após o crime. Mas as marcas eram do manobrista do estacionamento onde Kunzler deixara o carro. A polícia reconhece o erro, e o homem é solto no mesmo dia.
-Em 13 de março, é preso Jaerson Martins de Oliveira, o Baro, 41 anos. Condenado por dois roubos e um latrocínio, ele cumpre pena em regime semiaberto. Um homem tinha dito à polícia ter reconhecido Jaerson, mas se negou a depor.
-Advogados apresentam um CD com imagens nas quais Jaerson apareceria trabalhando no horário do crime. Ele é solto em 28 de março.
-Com ordem judicial, a polícia grampeia celulares de suspeitos, incluindo o de Jaerson e de Ronaldo Cirne Coelho. Nada é apurado contra Jaerson, mas escutas revelam que Coelho combina assaltos em saídas de bancos com comparsas, um deles é morto dias depois com três tiros.
-Em 9 de maio, a 6ª DP indicia nove pessoas pelo crime. Uma semana depois, o Ministério Público denuncia apenas Jaerson e Coelho.
-Em audiência judicial em agosto, o MP reconhece que Jaerson não tem participação no crime e pede a absolvição dele. Na quarta-feira desta semana, Jaerson é absolvido, e Coelho é condenado por associação criminosa por suposta participação no crime. Ninguém é responsabilizado por matar e roubar Kunzler.
CONTRAPONTO
O QUE DIZ A POLÍCIA CIVIL - Responsável pela investigação, a delegada Áurea Regina Hoeppel, da 6ª Delegacia da Polícia Civil da Capital, não foi localizada por Zero Hora por estar em férias. O delegado Cléber Ferreira, diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, disse que não existiriam outros suspeitos do crime. Questionado se a investigação foi equivocada, ele respondeu:
– Não conheço o processo, mas, se a absolvição do assassinato foi por falta de provas, acredito que o inquérito não trouxe elementos suficientes para convencer a Justiça.
O CRIME - Câmeras de vigilância mostraram praticamente toda a sequência do que aconteceu com Kunzler. O publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos, é morto ao chegar ao condomínio Jardim do Sol, na zona sul de Porto Alegre, para almoçar em casa. Antes, ele havia retirado R$ 44,2 mil, valor da venda de uma fazenda da família, em uma agência do Itaú, no bairro Moinhos de Vento. Câmeras de segurança do condomínio mostram quando dois homens em uma moto param ao lado do Civic conduzido por Kunzler, e um deles o ameaça. Com a reação do publicitário, que acelera o carro, tiros são disparados, e o malote de dinheiro é roubado.
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