segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UNIÃO POLICIAL


ZERO HORA 23 de setembro de 2013 | N° 17562

HUMBERTO TREZZI


PMs ajudam a esclarecer crimes. Troca de informações entre BM e Polícia Civil acelera elucidação de casos

Polícia é polícia, seja com farda ou à paisana. É com base nesse lema que PMs do 21º Batalhão de Polícia Militar (Restinga) implantaram um sistema de colaboração online com policiais civis que atuam na zona sul de Porto Alegre.

A cada prisão ou apreensão realizada, os PMs preenchem um fichário com nomes, apelidos, características dos suspeitos e do armamento encontrado, área de atuação e testemunhas que podem ser ouvidas. Tudo isso é enviado, por e-mail, de forma instantânea, para delegacias de bairro ou especializadas, como as de homicídios e roubos. O resultado é bom: alguns casos têm sido esclarecidos em horas, quando antes levavam semanas em um emaranhado burocrático e repleto de antagonismos entre policiais.

– Tentamos evitar que a ocorrência fique dias parada, à espera de consulta por parte dos policiais civis. Enviamos na hora, e os colegas comparecem na hora. Tudo muito rápido. E isso ajuda a elucidar casos – diz o tenente-coronel Otto Amorim, responsável pelo 21º BPM.

Uma mudança e tanto, em relação aos tempos em que policiais civis e militares gaúchos trocavam farpas – e até pontapés – pela rivalidade.

Um dos casos em que PMs e policiais civis atuaram juntos foi na morte de Daniel Silva Freitas, 33 anos, assassinado com três tiros em 14 de agosto, no bairro Restinga. Primeiros a chegar ao local, os policiais militares verificaram que a vítima era repleta de antecedentes policiais, como furtos, arrombamentos, tráfico e lesões corporais. Realizaram uma enquete preliminar com moradores e ficaram sabendo sobre desafetos do rapaz. Até aí é o que costuma ocorrer em qualquer local de crime atendido pela BM. O diferencial é que a P2 (serviço de inteligência) do 21º BPM, além de coletar possíveis testemunhas, sistematizou as informações em uma Comunicação de Ocorrência preenchida em computador. Esse material foi enviado, de imediato, para quatro delegacias de bairro – 6ª (Vila Assunção), 13ª (Cavalhada), 16ª (Restinga) e 7ª (Belém Novo) – além dos departamentos Estadual de Investigações Criminais e de Homicídios, da Polícia Civil.

A Delegacia de Homicídios compilou as informações e já identificou um suspeito, que se apresentou no dia seguinte em uma delegacia. Ele nega o crime, mas outras ocorrências em que o suposto assassino esteve envolvido – também levantadas pelo 21º BPM – ajudaram a firmar convicção de que ele matou, a mando de um sujeito também já identificado.

– Estabelecemos com esse batalhão da BM uma troca rápida e precisa de informações, essencial para solucionar assassinatos. As pessoas falam quando o cenário do crime ainda está quente – elogia o delegado Gabriel Bicca, que responde pelas delegacias de homicídios na parte sul da cidade.

Informação imediata agiliza trabalho



Os PMs não se limitam a colaborar só em casos de homicídios. Em abril, uma Patrulha Tático Móvel (Patamo) do 21º BPM abordou um veículo Golf na Vila Castelo (Restinga). No carro, foram encontradas duas espingardas calibre 12, um revólver calibre .38, 125 pedras de crack e munição.

Dois adolescentes e dois adultos foram presos. Com base nos antecedentes deles, comunicados de imediato, policiais civis realizaram interrogatórios e conseguiram comprovar assaltos e arrombamentos na Zona Sul.

Armas apreendidas pelos PMs, aliás, são comunicadas online para a Polícia Civil. Em alguns casos, o armamento se revela envolvido em crimes. A informação imediata sobre o tipo de arma e a numeração dela pode gerar perícia rápida, vital para esclarecimentos de diversos delitos. Quando há demora, a arma vai para um depósito e fica lá por meses ou anos. No primeiro semestre, o 21º BPM apreendeu 153 armas e 1,7 mil munições.

– O trabalho conjunto com o pessoal do tenente-coronel Amorim é nota 10. Essa colaboração não é de hoje, e sugiro que a BM proceda assim em toda a cidade, quem sabe no Estado. É que o número de PMs é quatro vezes maior do que o de policiais civis, eles estão nas ruas em maior número e por mais tempo. A sociedade lucra com esse entrosamento – define o delegado Guilherme Wondracek, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), uma das unidades de elite da Polícia Civil gaúcha.

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