sábado, 7 de dezembro de 2013

MISTÉRIO CRIA DIVERGÊNCIA NO SISTEMA

ZERO HORA 07 de dezembro de 2013 | N° 17637

CARLOS WAGNER

MISTÉRIO NA SERRA. TJ determina reabertura de investigação de crime

Ministério Público havia pedido arquivamento de caso, dado como suicídio, que ocorreu em 2011



Um caso que envolve disputa por herança e uma morte misteriosa em São Francisco de Paula, na serra gaúcha, foi reaberto pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ). Em fevereiro de 2011, a professora Cleusa Borges do Amaral, 46 anos, foi encontrada morta em casa com três tiros. A Polícia Civil indiciou o marido dela pelo crime, o comerciante Mário Luiz Benetti, 50 anos.

Mas, ao examinar o inquérito, o Ministério Público pediu arquivamento do caso como suicídio, o que foi acolhido pela Vara Judicial da cidade. Inconformada, a família de Cleusa recorreu ao TJ. No dia 28 de novembro, a 2ª Câmara Criminal, por três votos a zero, determinou o desarquivamento do inquérito.

Com a decisão, a documentação será remetida ao procurador-geral de Justiça para decidir o futuro do caso. Ele deverá designar um novo promotor para analisar o inquérito que terá três opções: se manifestar pelo arquivamento ou oferecer denúncia contra o comerciante por homicídio ou ainda solicitar novas investigações para a Polícia Civil.

A família de Cleusa nunca concordou com o arquivamento do caso. Entre os moradores da cidade, a morte virou um mistério. Representando a família da professora, os advogados Ricardo Cunha Martins e Francini Lara Fischer conseguiram que o desembargador Jaime Piterman autorizasse o mandado de segurança que pediu o desarquivamento do processo.

– Há várias provas que demonstram que ela não se suicidou. Por exemplo: foram três tiros disparados a uma distância de uns oito centímetros do corpo. E também não foram encontrados vestígios de pólvora nas suas mãos – argumenta Martins.

O advogado Gustavo Silvestrin Amoretti, que representa Benetti, disse que irá recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele crê que a disputa da herança, pelo seu marido e a família dela, é um ponto de tensão do caso.


Delegado sustenta inquérito

O delegado Daniel Reschke defende a qualidade do seu inquérito policial. Foi mais de um ano de trabalho. Em junho, ele reabriu as investigações e ouviu novas testemunhas. E mantém as convicções que determinaram o indiciamento de Benetti como suspeito pelo crime.

Argumenta que as provas recolhidas no local do crime e o fato de a professora ter sido alvejada por três tiros são fortes o suficiente para derrubar a tese de suicídio.

– Fico contente com o desarquivamento – disse.

Atualmente, o delegado está trabalhando em Canela. O caso está aos cuidados dos policiais de São Francisco de Paula.

Advogado de suspeito fala em “provas circunstanciais”

Defensor do marido da vítima, Gustavo Silvestrin questiona a qualidade do inquérito policial feito pelo delegado, que teria se baseado em provas circunstanciais para indiciar o seu cliente:

– Várias pessoas-chave não foram ouvidas, como duas empregadas da casa que, no dia da morte, foram dispensadas, e o psiquiatra que tratava do problema de depressão dela.


AS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO
Veja o que pode ter acontecido com a professora Cleusa

POR QUE TERIA SIDO SUICÍDIO - Cleusa sofria de depressão profunda, dispensou as empregadas mais cedo naquele dia e cometeu suicídio com revólver do marido. Em depoimento à Polícia Civil, Benetti afirmou que Cleusa é quem cuidava da arma. A família de Cleusa não aceita o suicídio por motivos patrimoniais, não quer dividir os bens dela com a filha adotiva. O processo de adoção segue mesmo com a morte da professora.

POR QUE NÃO TERIA SIDO SUICÍDIO - A prova técnica afasta o suicídio. A perícia não identificou características de tiro a curta distância. É impossível uma pessoa com arma na mão esquerda atirar da direita para a esquerda e à distância. O sutiã dela não tinha resíduos de chumbo, assim como também não tinha sinais de pólvoras nas mãos. Cleusa não sofria de depressão e tinha pavor de armas. A família está preocupada em esclarecer o caso, e não com herança

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